Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

O diabinho na Corte do Rei Arthur

Houve um certo tempo, há muito tempo atrás, na Corte do Rei Arthur, onde existia uma sala para os cavaleiros, os nobres, os condes e os curandeiros. Os plebeus não entravam, ou melhor, entravam sim quando era para limpar o ambiente e servir os figurantes do melhor jarro.
Um bar onde Baco ficava daqui e dali conversando, enchendo taças de vinho, embriagando todos os presentes. Mas era um Reino econômico, ou seja, comandado por um Ministro da Economia. Bebida sim, conta à parte.
Um cavaleiro pediu a conta no balcão e deixou sua moeda de ouro, saindo para o lado para conversar com alguém. Cabeça cheia, assunto inflacionado. Um curandeiro estava logo atrás, também com o intuito de pagar o vinho, com a moeda na mão. O cavaleiro achou que o convidado do Rei estivesse pagando a mesma moeda.
Aquela coincidência foi o início de um estopim. Era tudo que o diabinho esperava para incendiar o local. O cavaleiro deve ter exagerado no seu olhar e colocado a espada em nome da razão. O neoadversário tinha um saco de moedas de ouro, não precisava subtrair de um cavaleiro, ainda mais do mesmo Reino!
Mas naqueles tempos o homem tinha a virtude da violência, da impressão sendo domada pelo punho da espada. Tempos ignorantes para os dias de hoje. Mas naqueles idos a ignorância era a inteligência e a força física o magnetismo para o poder. Exércitos funcionavam assim.
Antes do cavaleiro, embebedado, puxar a espada, sopapos e chutes havia levado, retribuindo com o mesmo ferro nos nervos. Não se briga sozinho em bar porque a cerveja derrubada no chão enche de coragem e razão o bêbado ao lado. Virou uma pancadaria generalizada, para aflição das esposas e dos filhos cônscios ou não de ver o pai mais corajoso.
A guarda do Rei foi chamada; todos foram reclamar no calabouço, na seção onde o ouvidor mais tarde desenharia a primeira idéia de uma delegacia. A história foi como a casa onde ninguém tem pão e, por conseqüência, ninguém tem razão. Baco anotou a presepada no seu diário, para dar risadas mais tarde.
As forças ocultas aparecem onde o mortal menos espera. O diabinho está nos lugares mais discretos, nos pontos menos indiscretos. Ele inflama a relação entre os homens, coloca a discórdia onde a pomba mal acabou de se levantar.
Aquele episódio na Corte do Rei Arthur serviu para mostrar, fora daquelas muralhas imponentes e uma imagem verbal hipócrita, como os nobres também brigam por uma perna de grilo. Uma moeda a menos ou mais para um cavaleiro ou para um nobre do Rei não faria a mínima diferença. A diferença estava no orgulho, na prepotência, na vaidade, na confiança da espada em punho e da cura entre os amigos de Arthur.
Contam que entre olhos roxos, nariz vermelho, lábios sangrando, o Mago Merlin foi chamado para conter os ânimos porque o Rei tinha tomado um porre na sala ao lado. Quando viu o fuzuê, escafedeu-se, virou fumaça. Não quis saber a diferença entre a lâmina da espada e o pó mágico holístico.
Qualquer semelhança com essa ficção, não é mera coincidência. Merlin está de prova.