Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Tchau beijoqueira...

O dia começou hoje menos carinhoso.

Márcia Carreri morreu num dia movimentado para as redações locais. Visita de ministro, agitação política, crônica policial tristemente recheada e um aspecto curioso, coincidente e intrigante: bem no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa!

Que raios de liberdade é essa!

Liberdade que levou do nosso convívio a amiga beijoqueira que esbanjava carinho com seus beijos, gestos e palavras.

Conheci a Marcinha lá no início da década de 80 e nos tornamos amigos na campanha para a presidência do Clube de Imprensa de Dourados (CID) quando ela também fazia parte da chapa.

Não tinha essa das esposas ficarem enciumadas por causa da sua presença no meio dos “marimbondos” porque ela fazia amizade com todas elas.

Era querida.

Eu nunca vi alguém emburrado ou decepcionado com ela.

Era papo bom para toda a hora, para todo momento, difíceis, confusos ou não, nas rodas regadas à cerveja.

Na alegria, então, ela era uma criança sem limites!

Naquela campanha que aconteceu por volta de 1985 eu andava com o fusquinha amarelo 72 levando a família e ela junto para nossas promoções. O fusca era o carrinho para levar gente para as festas, para correr atrás do que estava faltando, para carregar material de construção para a obra do CID e como era um carro velho, ela queria escrever para o programa Sílvio Santos, para um quadro semelhante ao que passa no Caldeirão do Huck, o “lata velha”.

Eu que tinha vergonha de levar meu amado “herbie” para um programa de tevê... Era velho, mas era meu...

Foram muitos momentos juntos, felizes, muitas ocasiões, trabalhamos próximos por diversas vezes, principalmente na hoje moderna Agência Municipal de Comunicação (Agcom).

Difícil esquecer a loirinha que por onde passava beijava a face de todos à sua volta, independente de idade, cor, credo, q.i., opção sexual, gênero...

Tinha um bom texto, tinha pique para jornal diário, para a tevê e paciência para lidar com jornalistas estressados e nervosos que “estouram” ao menor ouriço que pintava pela frente...

Com toda certeza ela já lascou uma beijoca em São Pedro e está lá com sua alegria, sorriso e simpatia.

Ela tinha um espírito evoluído e por isso, talvez, tenha partido mais cedo. Crianças quando morrem são anjos...

Ela era apenas uma criança crescida de 46 anos...

Dizem que ninguém é insubstituível.

Eu às vezes duvido desse ditado popular.

Pessoas como Marcinha Carreri são sim insubstituíveis.

Que sua pequena filha, sua herança genética, moral e intelectual tenha orgulho dela, pois, eu, particularmente, tenho orgulho e alegria de tê-la conhecido e de ter sido seu amigo, apesar do momento de tristeza e lágrimas.

Um dia, com toda certeza, a gente se vê.

 

 

* Crônica publicada no dia 3 de maio de 2006 no site www.douradosinforma.com.br