Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

A simulação

Durante as comemorações do Dia dos Bombeiros, alguns dos convidados passaram um susto danado. O momento de descontração foi interrompido, em seguida ao desfile das viaturas, por um barulho estridente de um carro batendo em latas velhas e, de repente, se viu uma pessoa caída no chão embaixo do veículo. Nem todos prestaram atenção, mas o locutor se encarregou de avisar: “Neste momento acaba de acontecer um acidente aqui em frente dos bombeiros!”. Todos estavam de costas para a rua, se viraram e se assustaram, em meio a pequenos gritos e “ó...ó...ó...”
Era apenas uma simulação para demonstrar o rápido desempenho dos bombeiros. A confusão se armou porque ninguém sabia do teatro armado e alguns visitantes entraram em pânico. Um deles pegou o celular com a intenção de ligar para os bombeiros, exatamente em frente da corporação, outro também repetiu o gesto se disse chocado com o acidente exatamente no dia dos bombeiros e em meio a uma solenidade para homenagear esses valorosos servidores públicos. “Que ironia!”, pensou.
Mulheres, apavoradas, cobriram o rosto com as mãos, temendo pela vida do cidadão caído. Um outro ficou trêmulo, mesmo depois de ficar sabendo da simulação, ainda mais com a demora de segundos a mais para socorrer o intrépido ator, interpretando um desmaio ou um cadáver esticado ao chão, cercado por olhares curiosos e arregalados, temendo o pior.
Todo acidente realmente causa forte susto. Descoberta a simulação, a maioria se voltou aos seus lugares sob sorrisos discretos. A brincadeira foi no melhor estilo das pegadinhas do João Kleber e do Sérgio Malandro, na tevê.
Foi um teste aos corações, mas é bom não abusar da resistência das autoridades e convidados nesses eventos porque, isso é óbvio, ninguém está preparado para uma surpresa desse tipo, um acidente de mentirinha.
Nem todos estão preparados para uma forte emoção, embora ela seja inevitável e imprevisível. Um motorista de autarquia acreditou piamente que o acidente tinha sido verdadeiro e se mostrou bastante preocupado, embora depois tivesse dado risada de si próprio. “Cai direitinho como um patinho...”, comentou.
A cena continua rendendo comentários discretos, indiscretos e boas gargalhadas. O sujeito que pensou em ligar para os bombeiros, o primeiro a correr para o local do acidente, ficou tão assustado que não conseguia digitar os números no celular, enquanto bastava dar um berro para chamar o pelotão.
O comportamento dessas pessoas revela como reage o instinto humano diante dessas circunstâncias. Há os que são frios bastantes para ajudar e lidar com o inesperado, mas outros ficam, literalmente, com as pernas bambas. Ainda bem que foi apenas uma simulação. Mas que tudo pareceu muito real, isso sim. Na próxima vez, não seria exagero cobrar ingresso para o espetáculo.