Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Fuscachambó - 25julho2000

São Cristóvão realmente é um santo porreta. Depois de atravessar um riacho carre­gando Jesus Cristo sobre os ombros, ele vem protegendo muito camioneiro doido que viaja por este Brasil afora.

Dias desses, como nem santo é de ferro, ele estava se queixando do trabalho. Estava estressado, com dor nas costas e cansado de tanto ficar balançando no pára-brisa de caminhão. Teve que carregar um meni­no gordinho dias atrás e via­jado centenas de quilômetros em outro caminhão onde o banco não era nada confor­tável.

Depois, teve que voltar em ônibus convencional e se sentiu muito incomodado por não ter como esticar as per­nas direito. Além disso, um bebê na frente chorava toda hora e um velhinho, ao lado, tossia cinco vezes por minu­to.

Chegando perto do seu dia, 25 de julho, resolveu pedir uma folga a Deus. Ti­nha até arranjado um adjunto para substituí-lo no riacho e nas viagens.

Em casa, de papo pro ar, assistindo desenho animado e comendo pipoca, achou que essa era a vida que pe­diu a Deus.

Como alegria de pobre é igual nuvem, o sossego durou pouco. Os camioneiros pro­moveram uma caminhorreata com buzinaço e uma festa em sua homenagem. O barulho e o ronco dos motores foram infernáis. Não conseguiu dormir, ficou com insônia e irritado. Fazer o quê ? Resol­veu cair na folia também e dê-lhe dançar, saborear carne gorda e tomar cerveja. Deus não se importou com a patuscada.

O Diabo, de um canto, olha tudo e comenta:

- Raul Seixas tinha razão: enquanto Freud explica as coisas, o diabo fica dando os toques.