Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Fuscachambó - 29agosto2000

Os taxistas andam chate­ados com a concorrência das moto-táxis.

Enquanto eles ficam vendo o tempo passar, o concorrente não pára de cru­zar a  avenida para cima e para baixo.

 O desânimo é tanto que eles estão perdendo a von­tade de conversar. Estão cansados de ficar à toa en­quanto chega o dia de pagar mais uma prestação do carro. Quando toca o telefone de algum cliente pedindo táxi, eles tomam um susto.

Enquanto o Parafuso - apelido de um deles - estava deitado no banco traseiro do seu carro, chegou um cliente. Dali a pouco, mais outro e quanto retornou ao ponto não precisou nem desligar a chave porque outra pessoa o aguardava.

Naquele dia abençoado por Deus, fez quase 30 corri­das, tirando o atraso dos úl­timos meses.

De repente, passa uma moto-táxi com o escapa­mento aberto, fazendo um barulho infernal. Parafuso cai em si e acorda do so­nho, desaparafusado.

- Pôxa vida, alegria de pobre dura muito pouco mesmo.

Vendo que o ponto estava no mesmo lugar, a mosca zanzava no pára-brisa, a teia de aranha ornava o telefone e não aparecia uma alma viva, voltou a se deitar no banco pensando consigo mesmo: quem sabe volta aquele sonho gostoso.

É por isso que dizem que sonhar alimenta o espírito. O duro é concluir que a reali­dade é uma só. E Parafuso adormece novamente, ao som urbano de motos, buzi­nas, apitos. O único que não faz barulho é o taxímetro.