Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

A nossa Emília

Um dia apareceu uma gatinha aqui em casa.

Pequenina, frágil, muito frágil, miando forte.

Talvez fosse fome, dor de barriga, saudade da mãe, sabe-se lá...

Demos leitinho e cafuné e ela ficou.

De pronto a chamamos de Emília pensando naquela personagem do Sítio do Pica Pau Amarelo imaginando a mesma irreverência e inquietação...

Ela foi ficando, se acomodando, crescendo e os dias passando.

A gatinha ficou formosa como Iracema dos lábios de mel, a jovem índia tabajara...

Arranha travesseiros, tapetes e gente também...

Pula prá lá e prá cá e passeia pelos muros, quintais floridos e à noite, no telhado, costuma miar para a Lua, a deusa Jaci, e as estrelas como se estivesse no maior lero-lero...

Mia forte como o estrondo de um trovão...

Entra pelos ouvidos, atravessa veias e o coração, contorna o cérebro, corre alma adentro e sai pela pontinha de baixo do dedão do pé levando embora todo chulé...

Brincalhona, manhosa, marota, conversadeira e tristonha às vezes porque ninguém é de ferro...

Talvez ela guarde o segredo de Jurema como no livro de Alencar...

Todos, pelo menos os daqui de casa, não poupam carinho para ela, ainda mais quando Emília fica rosnando e se esfregando pelas canelas e se tremendo toda...

É a nossa gatinha Emília!

Ah! Aconteceu um milagre: ela aprendeu a falar como gente!

Seria presente de Tupã para ela, só ela? Quem sabe...

Agora ela pergunta de tudo.

Por que isto, por que aquilo, uma dúvida sem fim...

Aí de nós!

Ainda bem que a nossa gatinha não é uma gatinha qualquer...

É a nossa Emília, fofinha...

Pode perguntar à vontade...

O que a gente souber a gente responde, o que não souber a gente enrola...

E assim os dias se passam...

Amém!