Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Júlio Marques

Em “Relíquias de Casa Velha”, Machado de Assis (1839-1908) ensina a gente a remexer os porões da memória. Os colegas da imprensa querem reativar o prêmio para a melhor produção jornalística. Soltaram da gaiola o assexuado aracanga.
Quem empresta o nome é o ariano Júlio Marques de Almeida (1955/1986). Ele também é rua no Parque Alvorada.
Eu jamais poderia imaginar que um dia escreveria, com certa pieguice, sobre o Julinho; ele acreditou em mim, isso há 20 anos. Saudades desse camarada. Vivo hoje, talvez tivesse virado prefeito ou o boêmio número um. Tinha um carisma como poucos.
Às vezes eu acho que as pessoas com alegria abundante são invejadas pelos deuses e como o melhor cacho da vinha, Baco logo se apossa dele para seu amassadouro.
Ele deve ter visto o Juarez Fiel Alves, sexta-feira de remember, desfilando a careca reluzente pela varanda rumorosa e divertida do Valfrido Silva, ambos mais conhecedores de histórias sobre o dito cujo do que eu.
A lembrança mostra como nossa lembrança é curta. Não há nenhuma biografia sobre ele, assim como de outros que já se foram. A imagem fica na memória dos poucos colegas e amigos que ainda conseguem ter um pouco de memória. A distância do tempo é uma linha imaginária angustiante e Julinho é chamado, na forma de uma homenagem, para ajudar a gente a recompô-la.
Sou suspeito para falar sobre essa pessoa. Pelas mãos dele consegui o primeiro emprego decente na minha vida, na então assessoria de imprensa da prefeitura de Dourados, isso em 1981, e me inicie no caminho das letras. Ele aprovou a minha datilografia e do dedilhar ao pensar é uma outra história.
Julinho teve um jornal de vida efêmera, “A Notícia”, isso na década de 70 em Dourados. Deveriam fazer um concurso para quem conseguisse um exemplar. No final da década de 70 passou a ser assessor de José Elias Moreira (mandato de 1976-1981). As festas naquela época eram regadas. O fígado era mais novo.
Ele era uma espécie de “puxa-roda”, boa conversa, professor, sorridente e daquelas pessoas cujo sorriso se traduz em confiança. Não tinha inimizades, até ser “atropelado” por um caminhão na estrada para Campo Grande, em circunstâncias onde ele foi vítima de tremenda imprudência. Aos 31 anos, solteiro, virou aquela peça engomada em uma caixa de madeira, o guarda-roupa de todos os mortais.
Morreu no dia 7 de maio como diretor da TV Caiuás, viajando para uma reunião de diretoria da Rede Bandeirantes. Foi embora no auge da carreira, no esplendor da vida e no período mais produtivo.
Seu pai, Albano José de Almeida, o “Português”, foi diretor de redação de O Progresso sei lá em qual ano. Pai e filho estão esquecidos na memória da imprensa local e talvez um prêmio de esmero seja pouco. Resgatar a memória desses personagens é enxergar, um pouco mais a fundo, a história da expressão e da palavra na terra de Marcelino Pires, Nelson de Araújo, Armando Carmelo e de tantos outros pioneiros, inclusive de nós mesmos...