Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Eu sobrevivi

No sábado de Carnaval eu e a Lourdes encontramos uma amiga com o namorado dela, aparentemente um bom homem. A casualidade estimulou uma conversa surpreendente. O ex-marido é um amigo da família, embora ele esteja morando em outra cidade.
Entre um gole de cerveja e outro, ela começou a contar como tinha sido amargo o relacionamento anterior, revelando coisas que nós jamais podíamos imaginar. Até onde sabíamos, a separação tinha sido motivada pelo excesso de bebida por parte do marido. Era um daqueles que encostava logo cedo no balcão do bar e à noite já dá para imaginar o estado. Hoje é um abstêmio e se não me engano entrou para uma Igreja Evangélica.
O desabafo foi um choque. Ela contou um caso de traição e ainda disse que apanhava quando ela se exaltava, fazia exigências, reclamava, com toda razão, da hora em que o marido chegava e fazia aquela cena de histerismo que qualquer casal com alguns anos de convivência pode entender. Todos são falíveis, mas a agressão física é intolerável. Ele é um homem de mãos fortes, acostumadas com a lida pesada.
Ela disse que certa vez chegou a mentir para a própria mãe que tinha batido o rosto na cômoda para justificar o olho roxo. A gente costuma ouvir muitas histórias de brigas entre maridos e mulheres e casos que chegam à Delegacia da Mulher. Mas quando o fato acontece com alguém próximo, a impressão é diferente, forte. Fiquei com raiva do sujeito. Se soubesse disso no tempo em que estavam juntos, com certeza lhe diria umas boas, pois, ele me ouvia e tínhamos um bom relacionamento não só porque morávamos perto e nossos filhos tinham feito o prézinho na mesma escola, mas ele era um médico perfeito para o meu fusca amarelo.
Com a separação, ficou com os dois filhos menores, sem receber pensão e foi à luta. Nunca cobrou ajuda do ex-marido, passou a trabalhar e a estudar. Passados seis anos ou pouco mais daquele período crítico, hoje ela vive um novo romance e se diz, orgulhosa, uma vencedora. Realmente esse é um exemplo de mulher forte e determinada.
Justificou que nunca tinha denunciado o marido porque se sentia envergonhada, gostava dele e não queria acabar com o casamento. Mas o relacionamento ficou insuportável e teve forças para dar um basta. Recentemente, quando o ex-marido veio a Dourados para um casamento do sobrinho, resolveu dormir na casa que era deles alegando desejar ficar perto dos filhos, hoje rapazes formados. Mas teve que se contentar com o tapete da sala porque o lugar no quarto estava sendo ocupado pelo namorado. Ela conta que ele não disse um “a” e depois deve ter se convencido do mico. No dia seguinte, retornou para o interior de São Paulo.