Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Conversando com Presidente Vargas

Getúlio deve estar imaginando, fumando aquele charuto que nunca se acaba, como esta cidade cresceu e como os tempos de hoje são bem diferentes. Que tempo louco tchê!
Na época da Mate Laranjeira e da colônia isso aqui era tudo mato e para quem sobrevoava, era um verde esplêndido. As araras faziam inveja aos olhos urbanos.
Os carros são bem diferentes, com os traços espichados e cada vez menores. Hoje criaram uma praça onde se vendem lanches. Ele pensa como as pessoas se alimentam mal e se entopem de gordura. Nem quer falar em política, pois, após tantas conquistas, inimizades, mudanças e um tiro contra o próprio peito, os homens de hoje não passam de aprendizes.
Há um confuso conflito em cena, tirando o sono de muita gente.
Ele fica ouvindo a conversa no bar a céu aberto do Badaró, onde Federal, Genésio, padre Cícero e eu, naturalmente, conversam ao léu, achando o céu repleto de estrelas, na esquina da avenida com o nome do presidente e a Joaquim Teixeira Alves.
Getúlio bem que tentou ficar neutro, mas quando os alemães torpedearam nossos navios, em 1942, mexeram com o orgulho. Foi criada a Força Expedicionária Brasileira e mesmo assim demorou dois anos para que o primeiro grupo partisse para a Itália.
Hoje a guerra é diferente. As bombas e a intolerâncias são as mesmas, mas a informação é rápida, causando uma ansiedade maior.
Getúlio lembra como foi difícil aquele período e como foi doloroso suportar as mortes e a cobrança do nosso povo. Vidas são neurônios ocupando um espaço maior.
No alto de seu pedestal, não pode mais interferir, a não ser lamentar. Mas com certeza o Presidente deve se recordar daquela história do rei persa Xerxes, querendo atravessar o mar com seu exército. Mandou construir uma ponte com madeiras flutuantes e a tempestade da noite destruiu todo o serviço.
Em um ataque de raiva, segundo registra o Dr. Tom Chung em seu livro Qualidade Começa em Mim, ordenou aos escravos que aplicassem trezentas chibatadas no mar.
O bar a céu aberto nunca ouviu essa história, mas a inutilidade da conversa é do mesmo tamanho. Teve o menino que foi herói porque fechou o dique com o dedo.
O mundo realmente é um carrossel com caricaturas imprevisíveis. Vargas diz com seu olhar: as guerras são tolices, assim como a ganância. Quando as pessoas chegam ao lugar aonde ele se encontra, vão ter essa certeza.
De repente, ele estica os olhos para a turma do bar. Eu digo que tanto Bush como Saddam são bêbados inveterados. Um é pura bucha e outro só vive pra lá de Bagdá. Nem Getúlio segura a gargalhada...