Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Uma comadre por telefone

- Alô?
- Alôu!!!...
- O compadre está?
- Está, espere um minuto...
Nisso, a colega do serviço pede o telefone alegando que quer conversar é com a esposa do compadre.
- Oi, tudo bem?
- Tudo!
- Sabe o que é, já passaram alguns dias do aniversário do compadre amigo nosso, comparamos um presente simbólico e vamos aí entregá-lo pessoalmente...
- Aniversário? Presente?
- Há algo de errado nessa estória, o meu marido ainda vai fazer aniversário e você já quer presenteá-lo, aqui na minha casa. Quem é você, você está querendo dar um presente para o meu marido sua *&#@%%$$##&&¨***
A colega devolve, assustada, o celular para o motorista-compadre dizendo que ela estava sendo “esmagada”. Alguma coisa estava errada.
- Alô, mas não é a comadre Anastácia que está falando? Não é da casa do compadre?
- Compadre Anastácia é a sua vovozinha, respondeu a mulher...
- Então me desculpe, eu liguei errado!
Depois dessa confusão toda o compadre constata que ligou para o número errado, tinha digitado a seqüência antiga do telefone e quem saiu envergonhada foi a colega. Esta levou a maior bronca de uma desconhecida ciumenta.
- Mas como você liga para o número errado?, queixa-se.
- Você tomou o telefone da minha mão e já desandou a falar como se conhecesse a pessoa do outro lado da linha...
Refeito o mal entendido, o ruído na comunicação resultou em boas gargalhadas.
- Mas então vamos lá na casa do compadre levar pessoalmente o presente, disse o motorista-compadre.
Chegando a casa, não tinha ninguém.
No final da tarde, o compadre retornou, mas desta vez sozinho e começou a contar a confusão que ele tinha feito e o compadre-aniversariante quase fez pipi nas calças de tanto rir.
- Mas o número não é 422 tal, tal e tal...
- Não, mudou apenas para 425 e os outros continuam os mesmos...
Puxa, mas que coisa, eu estava crente que liguei para o número certo, mas a mulher não gostou da conversa, achou que a colega estava dando em cima do marido e ouviu, de graça, um monte de besteiras...
Na segunda-feira seguinte, na repartição, a colega se dirige ao aniversariante e narra a presepada.
- Passei uma vergonha danada!
- Mas está aqui o seu presente, toma!
Era uma camiseta bonita, para dar um realce a mais na barriga saliente do velho funcionário da repartição.
Dias atrás, uma vizinha do compadre-aniversariante passou por um equívoco parecido.
Ligou e encomendou um frango assado, pediu para a entrega ser feita ao meio-dia, mas não perguntou de onde era. O sujeito do outro lado respondeu apenas: “tudo bem”. Deu meio-dia, uma hora e nada...
No dia seguinte, o marido foi reclamar com o dono do açougue e este estranhou a cobrança.
- Mas que frango? Que encomenda? Esta é a lista das pessoas que ligaram e não tem o nome da sua esposa...
Retornando para a casa, com as mãos vazias, confuso, cobrou uma explicação da esposa e ela então começou a desconfiar que tinha ligado para o número errado.
- Mas bem que o sujeito podia ter dito que não era do açougue...
Agora, na repartição, os compadres de crisma, batismo e longas horas naqueles bancos duros da Igreja fazendo o cursinho de batizado, entenderam, por bem, agregar informalmente um aposto: a colega.
Ela mereceu a condição de comadre enviesada depois daquele inesperado e inadvertido pito por telefone.
Ambos cumprimentam-na:
- Oi comadre, tudo bem? E a Anastácia, como vai?