Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Alguém quer um puxa-saco?

Assim com a tiririca, o puxa-saco pode ser encontrado em todo lugar. É como piolho em texto, como diria Monteiro Lobato que não se cansava de ficar “catando piolhos” em escritos seus e dos outros. A bajulação está na essência humana, embora uns deixem esse comportamento bem escancarado.

Alguém já notou como se comporta um puxa-saco? Ele está sempre procurando mostrar as virtudes de seus chefes, a barba bem feita, o cabelo bem cortadinho e penteado, perguntam se o dia está lindo e maravilhoso, como vai a família, como o carro do patrão é bonito e bem conservado e fazem de tudo para agradar. Até lustram o seu sapato, se você, caro leitor, quiser e tiver um desses por perto.

Eles são fáceis de serem identificados, até parece que têm um carimbo na testa.

Agora, não se podem confundir puxa-saco com pessoa bem educada, gentil, prestativa e amiga, aquelas que são capazes de tirar a própria camisa em favor de alguém menos favorecido pela sorte. Não se podem cometer injustiças nessa classificação, mesmo porque o puxa-saco pode ser, infelizmente, um sujeito doente, ou se faz de bonzinho com terceiras intenções, pensando numa promoção, num aumento de salário e coisas assim que a vida está cheia de exemplos. Aqueles que não sabem subir por competência, mérito, estudo e dedicação, recorrem ao jeitinho brasileiro. Oras: é bem mais fácil ser puxa-saco se não tiver nenhum pudor em relação a isso...

Mas o puxa-saco, como o próprio folclore sugere, não se cansa de morrer afogado. Tem aqueles inclusive que nem sabem direito qual saco se agarrar e logo vão caprichando nas palavras e nas falsidades do dia-a-dia. Ficam doidos se não acham ninguém pela frente para lançar um mimo...

Os ricos e poderosos são as principais vítimas. Político com cargo público, então, nem se fala. Patrão que tem cara carrancuda costuma escolher no dedo os seus e levá-los na palma de suas mãos. Não podem chegar ao serviço que logo vem o sapo gosmento com palavras mansas, dizendo isto e aquilo mais só para agradar, só para encher o ouvido do superior com jasmins e rosas.

Na primeira oportunidade, salvo as exceções, pedem um favorzinho daqui, um empreguinho dali e desandam a falar como locomotivas sem freios.

Deveria existir uma lei contra os puxa-sacos. Não é crime o assédio moral, o assédio sexual, a calúnia e o racismo? Então, deveria haver um artifício legal contra essas pessoas, porque, os puxa-sacos servem sim é para encher o saco!

Que atire a primeira pedra quem nunca teve um por perto! O mais engraçado é que existem variedades diferentes. Há os incorrigíveis, aqueles que conseguem até ser agradáveis mesmo estando puxando o saco toda a hora, os inconvenientes e outros que se viciaram tanto que não podem ver um saco, de mamando a caducando e pode ser homem, mulher e até criancinha que eles vão logo dizendo aquele “blá-blá-blá”...

E quando dois puxa-sacos conversam entre si? Virgem Santa. Não há pinico que resista...

Tem o puxa-saco que acumula ainda a função de dedo-duro. Esse talvez seja o mais perigoso da espécie, porque entrega companheiros de trabalho ao chefe sem o menor pudor, sem o menor constrangimento e ainda têm a cara lavada de puxar conversa com aqueles que eles próprios deduraram como se não tivessem culpa no cartório.

Ah! Aquele fulano é um puxa-saco de marca maior. Ah! Aquele outro é um safado de um puxa-saco... São frases comuns do cotidiano.

O pior é que tem gente que adora um bajulador. Derrete-se ao ser bajulado da ponta dos pés aos fios de cabelo. Lógico que palavras agradáveis e de reconhecimento, uma palestra amigável, despertam o sentimento de qualquer um, tornam não apenas a relação a dois, mas em grupo, saudável e bonita, mas quando a coisa descamba para o puxa-saquismo, aí o cabo da colher entorta...

Há gente que já ficou até rendida e ainda não se deu conta do estrago.

Não há chumbo que pare puxa-saco com carteirinha do sindicato aonde a contribuição se paga com bajulação.

Si é verdadeira a versão bíblica segundo a qual Deus fez o homem e a mulher a partir da costela desse primeiro habitante, de onde vieram os puxa-sacos? Será que tem um planeta dessa espécie? Se tiver, uma hora desta ele já deve ter explodido...

Ou será que eles surgiram da perna que o saci perdeu?

Apesar desta apelação, este cronista vai logo avisando que não tem nada contra os puxa-sacos e isto não é uma discriminação. Cada qual com sua sina.

Apenas tem um porrete, um canivete de escoteiro, um espinho de ouriço, uma winchester, um vocabulário amargo e outras coisas a mais se for preciso...