Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

O Zé Pretinho

O Zé Pretinho é uma dessas figuras folclóricas que, por onde passa, deixa sua marca: o sorriso sempre estampado. O Mundo pode estar se ardendo em fogo, mas ele sempre ri. Os escândalos na Câmara dos Deputados alimentam ainda mais a sua gargalhada.

Ele mora em Terenos (MS), onde tem uma mistura de bar e mercearia na rua principal e uma chácara aconchegante. É também encanador, eletricista, veterinário, astrólogo, criador de vacas e outras coisas mais. Pelo menos dá suas cacetadas. É pau para toda obra.

Ele não está nem aí para o racismo. Mas basta a pessoa dar uma escorregada que ele corrige ao pé de ouvido:

- Aqui nesta rua passa uns neguinhos doidos, correndo demais em seus carros...

- E branquinho também não passa? – e escancara a rir.

No final de semana passada ele esteve visitando Dourados, se aconchegando no barraco urbano do aprendiz de Ermitão e comendo churrasco em meio ao ambiente dos Lopes, onde a animação ganha daquele programa Zorra Total da tevê. Entre um gole e outro de cerveja e um pedaço de carne assada, ele conta uma piada, muitas delas proibidas para as moças puras e menores de idade. Não se importa se a esposa está por perto ou não e não se incomoda com nada, até mesmo quando lhe fazem pilhérias...

No dia da sua chegada, foi logo procurar o aprendiz de ermitão no “seu” Hermes, um gaúcho bagual como ele só. Gente boa que só se vendo.

Zé Pretinho logo foi contando as suas para o dono do estabelecimento:

- O senhor sabe a piada da mulher do gaúcho?

- Não.

- Ela chegou no banco e pediu para o gerente se podia acender uma vela lá dentro e o gerente quis saber a razão, dizendo que ela estava ficando doida e coisa e tal. O senhor sabe porque ela queria acender a vela dentro do banco?

- Não.

- Porque o marido dela estava enterrado ali...

Em seu estabelecimento, lá em Terenos, chegou um forasteiro do Norte, daquelas bandas do Amazonas, Rondônia e lhe disse:

- Porque o senhor não vende suas coisas aqui e vai investir lá no Norte, lá que o dinheiro está correndo...

Zé Pretinho respondeu:

- Mas aqui que o dinheiro anda devagar eu não consigo pegar, imagine se ele estiver correndo...

Ainda em Dourados, visitando uma amiga de muitos tempos, viúva de um memorável empresário, ela reclamou de dores nas pernas:

- Eu não vou recomendar sebo de carneiro porque a senhora já é carneiro...

E a mulher olhou-o com um sorriso discreto. Fazer o que com um homem desses?

Na casa do aprendiz de ermitão, consertou as goteiras do banheiro, com auxílio do Valter “bigode”, deu palpite no número de filhotes que a cachorrinha ia ter e quase acertou e disse que ela ia dar cria na força da Lua. Recomendou um remédio para ajudar no parto, enfim, o homem é um almanaque ambulante...

Ainda no sábado, extasiado com a cerveja, quis dormir no final da tarde no corredor externo da casa. Acordou com os pernilongos devorando-o...

No sábado à noite, foi no baile dos namorados com o Valter, a Lídia e a Sandra, onde a Banda Contramão deu seu show sob o vocal do Edilberto. Na volta, passaram na feira, quis comer “sobᔠe logo foi chamando o atendente por um nome nipônico enquanto o rosto do rapaz não nega a sua origem douradense, enfim, ele fez, literalmente, a festa e não deu sossego para ninguém.

Gente feliz é assim. O resto é tristeza, malvadeza e amargoso.

Quem quiser conhecê-lo pessoalmente, é só dar um chego na sua cidade, a única de Mato Grosso do Sul com um totem como ponto turístico. Pelo menos eu não conheço outro igual.