Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Os olhos do desbunde

 

A Parada da Diversidade foi, literalmente, um desbunde.

A sexta-feira passada foi a mais cor de rosa que já se viu em Dourados desde a sua fundação. Os pioneiros com toda a certeza ficariam com os cabelos em pé se saíssem de suas catacumbas para ver tal arco-íris.

Ares de cidade grande? Talvez sim, talvez não, pois, se tamanho fizesse a diferença Davi não teria derrubado Golias com uma funda.

O relevante é a revolução que os ditos patinhos feios fizeram em praça pública desarmados, aliás, armados apenas com a sua vontade de serem respeitados como seres humanos e cidadãos independente da opção sexual e das regras morais.

Municiados apenas com balões multicoloridos, música, fantasias exuberantes, brincos, cabelos estranhos, enfim, com a vontade de barbarizar uma sociedade que esconde, debaixo do tapete, as suas próprias barbaridades.

Esses patinhos feios tiveram a coragem de bater de frente com a discriminação com suas trombetas querendo derrubar as muralhas de Jericó e estão tentando mudar a fábula, ou seja, o rumo das regras. Afinal, o que há de mal em aceitá-los como são? 

Se o homem tivesse direito à perfeição e à beleza física e moral na hora em que Deus fosse moldá-lo, com toda certeza ele desejaria ser perfeito e belo. Mas não. A humanidade tem que aprender a conviver com suas diferenças intelectuais, físicas e morais. Lógico que o meio influencia a personalidade, mas existem detalhes genéticos de nascença.

Discriminação fere sem abrir ferida na pele. Doe na alma, no sentimento, no direito que todos têm de serem o que são, simplesmente isso.

O bicho mais feio é a hipocrisia, a falsa moral, a megalomania, a falsidade e outros destemperos sociais cuja memória de cada um, salvo exceções, sabe distinguir muito bem.

Se os gays e lésbicas são depravados, qual o predicado que se pode empregar aos corruptos, aqueles que tiram dinheiro dos pobres e inocentes para se locupletarem?

Qual o tratamento, além da cadeia, lógico, que se pode dar aos mega-sonegadores?

O que se dizer dos falsos mercadores da fé?

Qual a palmatória que se aplica aos adúlteros?

O evento mexeu com o inconsciente coletivo como uma bússola que diante de um magnetismo inesperado, fica maluca, perdendo o Norte.

Se eventos como esse acontece Mundo afora, porque Dourados poderia ficar alheia? Ou alheio?

A homossexualidade é tão antiga como andar para trás. Isso não é novidade.

Se ela é sem-vergonhice, é preciso se olhar quem tem telhado de vidro no pedaço.

Essa é uma discussão que nunca se cessa porque os contras têm todo o direito de sê-lo e os a favor também. Podem vasculhar a Bíblia, resgatar os valores morais e dizer isto ou aquilo. Mas não se pode negar a sua existência e como tais merecem, no mínimo, respeito.

Essa gente demonstrou coragem, atributo de poucos hoje em dia porque normalmente as pessoas se escondem em uma redoma de conveniências.

Foi polêmica, teve peito, raça e bunda para mostrar que não estão à margem da sociedade.

Independente das controvérsias foi um marco.

Eu perguntei ao meu cãozinho Bambam, aquele que é o mais chato da rua, o que ele achou da parada gay.

Sabe o que ele fez?

Deitou de lado e colocou as patinhas sobre os olhos.