Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Os zombeteiros

Mesmo na ilegalidade, o jogo do bicho continua sendo o mais popular e folclórico com suas histórias e estórias, do apostador que sonhou com tal bicho, com tal coisa e acha que isso pode ser um sinal para aposta. Há livros curiosos para ajudar a interpretar essas misteriosas quimeras.

Existem apostadores que gostam de almoçar bastante e durante a sesta esperam um sonho inspirador. São nesses momentos, quando a pessoa “morre um pouquinho”, que entram em cena os espíritos zombeteiros. Eles ficam confundindo a cabeça das pessoas, insinuando uma charada, um bicho correndo atrás do outro, um monstrengo de duas cabeças, fulanos parecendo com tal coisa, e assim brincam à vontade com a caverna da imaginação existente dentro de cada um, como crianças em completo regozijo de infantilidades.

O cidadão já levanta imaginando o bicho que vai dar. O mistério e a crença tomam conta dos impulsos e os cálculos aritméticos, junções, associações de idéias e imagens se tornam efervescentes.

O galo de ouro canta bonito fora do seu trivial horário.

Duques, ternos, secos e a festa reunindo avestruzes, macacos, veados e vacas se transformam no samba do crioulo doido.

Os zombeteiros, por sua vez, pintam águias de carneiros e elefantes de perus. Afinal, quem pode ao certo saber o bicho que vai dar no final da tarde?

Engraçado como existem pessoas que acertam e ganham um extra e outros vivem brigando com seus sonhos como a mulher chata que repudia a própria sombra.

Diante da imensidão de sonhos e apostas, talvez falte bicho na floresta imaginária. Aquele que sonha com uma jaca pode pensar o que? E se no lugar da jaca o zombeteiro colocar uma abóbora? O genro ganhando presente da sogra significa o que? O sujeito trocando pneu de carro em pleno deserto enquanto o urubu ronda o espaço? Uma mesa farta para quem está de regime?

O que dizer da cara de espanto do mudo e perneta vendo o touro furioso em sua direção?

Os zombeteiros são assim mesmo, esquisitos, paradoxais, irracionais, engraçadinhos, confundindo sonhos, as únicas coisas abstratas e concretas ao mesmo tempo, que o homem político ainda não conseguiu tributar.

Mas devem existir também os espíritos não zombeteiros porque tem gente que consegue acertar em cheio e quebrar a banca. Apenas sorte? Destino? Se existir uma resposta, há uma multidão à sua cata.

Por que a zebra não faz parte da relação dos 25 bichos? Nem a galinha, o carrapato, a hiena e a mula sem-cabeça?

Como se comporta o zombeteiro que um dia foi bicheiro?

Enquanto essas perguntas não tiverem respostas, o folclore e o vício popular estarem aí, em voga, sempre na moda, alguém vai continuar lavando a égua ou enchendo a burra, aquela que não é de jeito nenhum esposa do burro. Aliás, se o sonho for com burro qual seria a peça pregada pelo zombeteiro e quem seria o ganhador?

Ganha um doce quem acertar...