Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Carta a um corrupto

Prezado corrupto (prezado uma ova! Banana pro ce!).

Onde estiver, lembre-se o elementar: dinheiro não é tudo nesta vida. Enquanto você e sua corja surrupiam cofres públicos, burlam o fisco e usam um monte de subterfúgios para se safar da cadeia, nem é preciso lembrar que por conta dessa roubalheira os problemas triviais estão cada vez piores.

De tão corriqueiros tornaram-se clichês tristes.

Talvez nem Deus, com infinita misericórdia, tenha piedade da sua alma.

A sua alma deve ser eterna penumbra. Ponto cego.

Vale uma adaptação drummondiana: o corrupto municipal discute com o estadual qual deles é capaz de ganhar do federal e este tira ouro do nariz!

Há muito tempo corrupção destrói mentes, corações e sonhos. Talvez tenha nascido com o homem.

Mas isso não elimina as esperanças. Muito pelo contrário.

Felizmente há gente de bem, honesta, com vergonha na cara para se opor a esse mar de lama.

Sabe corrupto, dinheiro facilita coisas, traz conforto redobrado, oferece tempo para luxúria e para se brincar de semideus, ter sexo à vontade, mas a vida realmente se molda e se incorpora é em atitudes, gestos, ações positivas, simplicidade, pensamentos nobres, fé contínua e não em vulgaridades.

O homem, imperfeito por natureza, comete erros, a tentação pode ser grande, mas o corrupto profissional é, diga-se de passagem, perfeitamente imperfeito por excelência.

Parece que a corrupção atingiu seu clímax porque atualmente só se fala nela.

Mas ela vem de longe, de muito longe.

Vem de onde Judas perdeu as botas.

Talvez o corrupto-leitor se faça de ouvidos moucos, fuja desta carta, direcione a retina para outro rumo e ache estas palavras mero desabafo ou mais um idiota dizendo o óbvio e o incabível.

A intenção não é arremessar coleiras e sim atingir o âmago.

A leitura é um caminho rápido para a consciência e para o íntimo, portanto, corrupto-leitor, você agora sentirá mais forte uma névoa de culpa.

Tornar-se refém da culpa é pior que vender a alma porque onde você for ela estará presente, sempre incomodando e cobrando. Falar que você não tem consciência é conversa para boi dormir. Tem sim é sede demente pelo dinheiro, poder, querer mandar a todo custo, pisando sobre a transparência, a sinceridade, e acha que tudo se resume à fartura enquanto desintegra enfim a igualdade de valores sociais, capitais e culturais.

Por falar em boi, cabe reprisar: quanto mais se conhece o homem, mais admiráveis se tornam os animais irracionais!

Aliás, um dos espaços incorruptível é do rodeio.

Não adianta o peão conversar na orelha do animal para ser menos feroz.

São oito segundos e, se não agüentar, pimba!

A punição do corrupto deveria ser mais do que a cadeia.

Deveria ser pegar touro pelos chifres, urutu cruzeiro pelo rabo e onça com um saquinho de risadas!

Se oportunidade faz ladrão e para se conhecer um homem basta-lhe dar dinheiro, o corrupto é então doutorado.

Enquanto o homem pensa grandemente em retornar à Lua e a ciência elabora o maior código genético da história, você, corrupto, vive como fênix, mas miséria escorre como caldo de vulcão em erupção e mais cedo ou mais tarde ele vai te tragar com sua lava.

Para finalizar: o corrupto pode escapar de um raio ou da polícia, mas não escapa do acerto de contas que se faz a sete palmos.

Lá, os ratos e os vermes gostam mais dos seus semelhantes.